Tuesday, April 29, 2008

A festa de Rita

Rita fez uma festa. Foi muito bonita. Tinha balão. Tinha palhaço. Tinha um monte de gente e muitos docinhos. Na mesa tinha brigadeiro, casadinho e um bolo bem grande no meio. Rita ganhou muitos presentes: uma bola, uma boneca e uma garrafa de vinho tinto que bebemos toda antes de cantar parabéns. Os pais de Rita apareceram para o apagar das velinhas. Ele era um sujeito meio careca, sempre com um copo de whisky na mão e um sorriso safado no rosto. A mãe de Rita era uma coroa espetacular e usava um vestido que a deixava melhor ainda. A música aumentou e naquele escuro da pista de dança só enxergávamos a mãe de Rita se esfregando nos convidados com as intervenções do flash da câmera do pai de Rita, que fotograva a cena encostado num canto da sala. A mãe de Rita abaixou minhas calças, se ajoelhou e seguiu o ritmo da música. Eu vibrava junto com as batidas, levado pelo lança-perfume. Puxei-a pelos cabelos e lhe apertando a cara com a minha mão direita ela se entregou. Ela me fitava com um prazer raivoso enquanto olhava pra dentro de mim, um olhar que aos gritos me desafiava a ir mais fundo, mais forte, mais rápido. Os outros nos observavam. O pai fotografava. Bebi a mãe de Rita num ritmo sincopado, aos poucos, cedendo um pouco da minha consciência em troca de cada gole. Ela se embriagava com a minha entrega e a cada grito ia abrindo aos poucos mão de si mesma, até que restasse mais dela sobre mim do que eu mesmo, e dentro dela mais de mim do que ela era feita. E todos observavam e eram observados e nos sorviam e também eram sorvidos, inebriados pelos cálices da luxúria que transbordavam com a insaciabilidade do desejo alheio, que em semi-colcheia alimentava nossa sede.

Rita fez uma festa. E que festa!

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Monday, April 28, 2008

Carioca 2008: Flamengo 1 x 0 Botafogo

Não existe alegria maior para um flamenguista do que ver o time ganhar com um gol de Obina. É a celebração do folclore que apenas um esporte como o futebol, onde um único lance pode mudar os rumos de uma partida inteira, pode proporcionar. Gordo, engraçado e longe – muito longe – de ser unanimidade, mais uma vez ele entrou em campo e fez o seu papel, dando ao Flamengo uma vitória importantíssima.


O jogo tinha tudo pra acabar no 0x0. Ambos os times estavam excessivamente cautelosos e nervosos. O Botafogo sofria pela falta de elenco, esbarrando nas limitações dos quatro reservas escalados como titulares. No Flamengo, Juan e Toró corriam em dobro pra compensar a falta de futebol dos dois melhores jogadores do time, Ibson e Léo Moura. O meio-de-campo foi disputado à foice, na correria, rareando os bons lances ofensivos para os dois lados.

Com 16 minutos, o segundo tempo já havia sido muito melhor que o primeiro, com várias chances claras de gol. O Flamengo chegou com Souza logo aos 2min, num arremate que o titular Castillo com certeza aceitaria, enquanto o Botafogo conseguiu se organizar e criar mais, levando perigo em bolas paradas e acertando a trave numa jogada genial do zagueiro Eduardo.

O lance que decidiu o jogo, porém, não começou nos pés de nenhum jogador do Flamengo, mas nas mãos de Joel Santana, que tirou um volante e deixou o time com inacreditáveis quatro atacantes em campo aos 30min (Souza, Obina e Diego Tardelli, com Marcinho mais recuado). Num drible equivocado de Eduardo (o mesmo do lance genial), Léo Moura teve um lampejo de Léo Moura e fez um excelente longo passe para Tardelli, que teve um lampejo de jogador de futebol e cruzou para Obina, que foi apenas Obina ao empurrar a bola para as redes quase de carrinho, sacramentando a vitória do rubro-negro. Agora o Flamengo está a apenas um empate do bicampeonato carioca.

Notas:
  • Ibson fez uma das piores partidas do ano, o que acabou refletindo no desempenho do time. 2008 não começou bem pra ele, que precisa mais do que nunca do apoio da torcida.

  • Tardelli afirmou depois do jogo que tentou chutar no lance do gol. Então, é oficial: ele errou tudo o que tentou na partida.

  • Souza definitivamente encontrou seu futebol atuando como segundo atacante, exercendo a função de pivô. Se movimenta, segura a bola no ataque, dribla e serve bem os companheiros. Só que precisa urgentemente da companhia de um atacante veloz.

  • Um bom reforço para o Brasileiro para a dupla com Souza: Nilmar ou Dagoberto . O colorado está insatisfeito no Inter e tem entrado em atrito com o técnico Abel Braga; o tricolor poderia vir numa negociação envolvendo o zagueiro Rodrigo.

  • Marcinho, apesar dos gols, não tem cacoete de atacante. Com mais disposição, o Tardelli bota ele no banco fácil. Kléberson ainda não teve uma grande atuação com a camisa do Mengão. Renato Augusto é imprescindível para o meio-de-campo.

  • O Flamengo precisa urgentemente começar a chutar a bola de fora da área. O time desperdiça muitas jogadas ensebando com passes pro lado na entrada da área adversária e tentando cruzar a bola pra um Souza no meio de três defensores.

  • Obina tem estrela. Os torcedores rivais costumam usá-lo para nivelar o Flamengo por baixo, mas a verdade é que ele já foi decisivo inúmeras vezes. Em 2007, o destino de vários times teria sido muito melhor se eles tivessem um Obina no elenco, um jogador que entra e faz o serviço - Botafogo, Palmeiras e Corinthians que o digam.

A decisão do próximo domingo promete, com o perdão da expressão, pegar fogo. Enquanto o Flamengo enfrenta uma desgastante viagem até o México, o Botafogo tem a semana inteira para se focar na decisão. Com a saída marcada, Joel Santana encara nos próximos dias a encruzilhada que definirá como o trabalho dos últimos meses ficará marcado na memória dos milhões de flamenguistas. O “Papai” chegou no momento decisivo, naquele lance que pode mudar os rumos de uma partida inteira. Agora é esperar pra ver se ele vai ser Eduardo ou Obina.

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Thursday, April 24, 2008

Sessão Corílio #4 - Megan Fox

OOoOoooOOOOOOhHhhHHhhhHHhH OooOhOhHh OOoOOOhHHh: OOOOhHhh OoohHH
OooooOOOHhhHhhH, ooOOOooOOOHhhhHHh, OOOOoooOooooOHhhHhhhhHhhh


OOoOOOoOooHhHhHHhHhh - OoOoOoOhhHHhhh!!

OOooOooOOOHHhhHhhhH. OooOOoOOhhHhhh. OOOOHhHhh, OOooOooOOOOOhHHHhhhHHHhh!
OOooOOOOOoOoOooOOOOooOOOHHhhhHHHhhHhHHHhhhHH.

OoOOOooOOOhHHhhHhH? OOoOhHhh. OOOoooOOOoohHHhhh...

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Aleluia! #2

Outro dia desperdicei uma chance de ouro na rodoviária. Tinha ido levar minha Tchuca pra pegar um ônibus e, enquanto a gente esperava, um sujeito veio meio sorrateiro do meu lado, com aquele tipo de atitude “aí tem”. Mas não era assalto não, nem venda de loteria. Era só um homem muito crente que gostava de pregar a palavra de Deus com analogias “super” “criativas”, felizmente (?).

Eu ouvi com atenção o que o cara dizia, porque acho um barato esse tipo de situação. O que leva um cara a abordar um completo estranho numa rodoviária e começar a pregar? Será que ele realmente achou que estava fazendo uma boa ação? Que era a obrigação dele? Será que eu fui escolhido aleatoriamente? Ou ele viu uma chama de perdição no meu olhar? Acho isso realmente intrigante.

Ele foi falando até o ônibus e a gente ter que sair e foi aí que eu percebi como teria sido legal travar uma discussão como sujeito, ver o quanto ele ia agüentar discutindo algo bem idiota. Tipo na hora em que ele falou dos 10 mandamentos, interromper bem calmo, com toda a segurança do mundo, corrigindo:

- Quinze. São quinze mandamentos.

O papo do cara era muito involuntário. As pessoas eram os doentes, o céu era o hospital e Jesus, obviamente, era o médico. Ele não falou, mas acho que nesse cenário os apóstolos eram os enfermeiros – até Judas, um profissional pouco dedicado, porém – Maria Madalena a recepcionista (daquelas bem irritantes que dão vontade de apedrejar!) e Deus o pai que obrigou Jesus a estudar medicina, porque publicidade não dava dinheiro e era coisa de filisteu.

Antes de ir embora, ainda pude conferir uns lampejos do cara catequizando outros coitados, que sem contar com o mesmo interesse que eu, não se se dignificavam nem a olhar na cara dele. Isso aparentemente soava como um desafio pro sujeito, que se mostrava cada vez mais engajado. E ele também não dava sinais de cansaço: ia atravessando a
rodoviária toda, fazendo escala em cada um dos "ouvintes".

Essa é a verdadeira doença, o “religionismo”. Uma pena o Dr. Jesus não ser psiquiatra.

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Espaço: 120l (um Gordo, daqueles bem porrrrco)

Hoje de manhã eu estava pensando na campanha pra 90fm que eu e o Rafael estamos criando lá na agência (como é engraçado o verbo ser/estar. Falar “nós tamo” é tão natural, mas quase impossível de escrever... “estamos” e “estávamos”, por outro lado, sai naturalmente no papel – ou na tela – mas é complicado de falar. Parece coisa de francesinho falando sobre a última viagem que fez de carro, durante o chá das cinco, enquanto declama Dom Casmurro pra noiva e tias, tipo “a viagem que fizemos para Petrópolis estava formidável”) e comecei a matutar um pouco sobre como seria legal uma promoção onde o participante deveria escrever sobre uma música que desperta emoções nele e a história por trás dela.

Eu e todo mundo somos cheios dessas histórias - “Stan” do Eminem me lembra o primeiro ano de faculdade, quando eu acordava cedo nas manhãs frias de outono pra dormir na aula de Teoria da Comunicação; o Blue Album me lembra cerveja, etc – mas se fosse participar, falaria sobre o Gordo. Seria mais ou menos assim:

Em 2001, eu e meus amigos combinamos de sair numa boate nova que estava abrindo naquele dia, o Bali Hai de Porto Belo. Fomos em dez pessoas divididas em dois carros, o meu e o do Indré. A fila quilométrica que levava até o Bali Hai não pareceu muito apetitosa pro Indré e pra namorada dele, então ele reclamou que estava tudo muito lotacittico (pro Brasil, não pra Itália) e foi embora. E o resto do pessoal ficou naquela de “a gente dá um jeito na hora de voltar” - que deve ser a frase mais dita antes de festas que acabam mal, juntamente com “pode encher que hoje a bebida não tá pegando” e “não se preocupe, eu até dirijo melhor bêbado”.

Quando chegamos às 6h no carro, ficou evidente que oito pessoas não cabem num Palio, principalmente num que veio com três isopores pra acomodar a bebida da galiera. A situação exigia uma verdadeira engenharia que não estávamos em condições de realizar. Demoramos um bom tempo pra achar uma solução – afinal, a dignidade ainda vinha em primeiro lugar e por isso ninguém se atreveu a sequer mencionar um possível tetris humano. De fato, só conseguimos evoluir depois que o Nener (rest in peace, Catatupis) arranjou carona pra voltar com outra pessoa. Aí ficamos em sete, “beeeeem” mais fácil!

O Djunio achava que “sem dúvida” era mais justo tirar dois-ou-um e colocar dois perdedores pra voltar de Praiana. Nessa hora, mesmo sendo obrigado a lutar contra o cansaço pra chegar em casa, fiquei feliz por ser o motorista. Só que obviamente ninguém queria ter que esperar ônibus e ainda pagar pra sair dali. Então, da mesma forma que surgem todas as idéias geniais, do nada apareceu a que nos salvaria: “se a gente colocar os isopores na frente, tem espaço no porta-malas”. E nessa hora eu fiquei mais feliz ainda por ser o motorista.

A viagem de volta em si foi tranqüila, com o pessoal socado em quatro no banco de trás bem quieto e os isopores empilhados no colo do Pelado, roçando no vidro do para-brisas e fazendo um barulho altos engraçado, e o som tocando o primeiro dos Strokes, como era moda naquela época (pra quem era legal como a gente).

Até hoje, quando escuto esse disco, lembro daquela e de outras festas do verão da época. Não só eu. Uns anos depois, quando a gente estava ouvindo “New York City Cops”, todo mundo concordou que ele lembrava muito os esquentas de 2001. O único que destoou um pouco foi o Gordo, cheio de nostalgia: “ai aizer, essa música me lembra o porta-malas do carro...”.

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Cariocão 2007

Depois que comecei a escrever sobre o Flamengo em 2007 (tijolo que me deu dor de cabeça e me obrigou a parar na metade), lembrei que ainda não tinha falado sobre o título no Carioca do ano passado. Já faz quase um ano e não tem mais toda aquela empolgação, mas mesmo assim resolvi contar a história.

Era 2007 (bons tempos) e naquele ano minha Tchuca foi fazer um curso em Porto Alegre. Todo mês ela tinha que viajar pra lá e me convidou pra ir junto algumas vezes, porque eu ainda não conhecia a capital gaúcha e sou ótima companhia. E porque ela odiava ficar lá sozinha o fim de semana inteiro, na parte feia da cidade (onde gordas te atacam na rua). Eu aceitei, porque adoro viajar e andar de ônibus, e prometi ir na próxima vez. E só fui descobrir que a próxima vez caía bem no dia do jogo do Flamengo quando já estava de passagem comprada e palavra dada.

A maior parte do meu tempo em Porto Alegre foi ocupada com esforços para achar um bar que passasse a final do Carioca (o resto se dividiu em Sgt. Peppers Bar, a leitura de "Belas Maldições" e fugir de gordas que te atacam na rua). Mas como todo mundo sabe – e eu também sabia – futebol fora do Rio Grande pra gaúcho é como o resto do mundo pros Estados Unidos: não existe. Como não ia rolar de ver o jogo por lá, aproveitamos para voltar mais cedo pra Blumenau, às 13h30 (chegando às 23h), e fui obrigado a viajar com frio na barriga. E com um velho gremista que ouvia a final do Gaúcho num radinho e gritava “Iuuuuu-hul” a cada gol do Grêmio contra o Juventude (foram quatro na viagem toda) e com o vocalista dos Acústicos&Valvulados.

Quando o ônibus fez a primeira parada, pude ver na televisão que o jogo do Mengo estava 0x0 e no intervalo. Menos mal. O Botafogo era um time melhor e um empate no primeiro tempo não era de todo ruim. O jogo reiniciou, mas não deu pra assistir nem um minutinho porque já era quase hora de ir embora. Quando eu estava no caixa pagando meu lanche, vi o Juan partindo pro ataque, escapando do marcador e cruzando pro Souza. Gol! Quase explodi de felicidade, mas comemorei com moderação e gritei bem baixo, afinal estava num lugar público cheio de gente. Mesmo assim minha Tchuca falou que ficou com vergonha do escândalo que eu fiz. 
Vai entender...  E ainda brigou comigo porque larguei dinheiro e mercadoria no caixa, sem supervisão, pra correr pra frente da tevê.

Eu nem liguei, afinal era só alegria. O Flamengo ia ganhando do Botafogo, o temido Carrossel, o supra-sumo do futebol, do poderoso alvinegro que parecia olhar com desdém para todos os outros times, em cima de um pedestal com seus jogadores de nomes compostos e apelidos de duas sílabas.

Aí, o balde de água fria.

Eu tinha incumbido o Peru de me atualizar via SMS do andamento do jogo. Até então ele vinha fazendo um péssimo trabalho e só havia me mandado duas mensagens: 0x0 e 1x0. De repente, chegou mais uma. Pensei na hipótese de outro gol nosso. Improvável. Era o Flamengo de Ney Franco. Tinha tudo pra ser gol do Botafogo. Enquanto ia tirando o celular do bolso, até me conformei com a possibilidade. Seria apenas normal, até esperado. Inesperado mesmo foi ver que a mensagem não era do Peru, e sim do Homer, e dizia exatamente o seguinte:

hahahaha Fla 1x2 Bota c fudeu !!

Era inacreditável. Inacreditável, imensurável, inconcebível! Não sabia o que pensar na hora. Fiquei totalmente desnorteado. Como, meu Deus, como passamos um tempo inteiro sem tomar gols e apenas poucos minutos depois de abrirmos o placar levamos a virada? Assim, direto, sem ao menos empatar? Porra, virou jogo de basquete? O frio na barriga, que tinha aliviado, virou uma borboleta. E eu comecei a ficar com raiva do velho gremista, que já estava mais ou menos no terceiro “Iuuuuu-hul”.

Foi quando aconteceu. A magia aconteceu.

Do nada, comecei a me sentir bem. Passou borboleta, passou tudo. Comecei a me sentir confiante, a acreditar na vitória do Flamengo. Foi bem estranho. Era como se eu tivesse a certeza de que tudo ia dar certo no final. Um sentimento súbito e altamente questionável para alguém que torce pra uma zaga formada por Moisés e Irineu. Segui confiante, dizendo pra mim mesmo que seríamos campeões. De repente, o telefone toca. Era meu pai, avisando que o Flamengo tinha empatado. Golaço do “Ronaldo” Augusto.

Depois disso foi difícil segurar a empolgação. Aquela confiança repentina se transformou em certeza absoluta - ou quase. Afinal não é simplesmente "tenho certeza que vamos ganhar, que bom" virar a cabeça e dormir. Eu tinha que saber como ia acabar o jogo. Mas como o Peru mui gentilmente não cumpria a parte dele do acordo, fui obrigado a telefonar pedindo uma transmissão ao vivo das cobranças de pênalti. E nas defesas do Bruno, eu vi (ouvi) minha certeza se confirmar definitivamente e finalmente pude devolver os “Iuuuuu-hul” pro velho gremista. Flamengo campeão!! Mais uma vez!! Choooooooora Bostafogo!!

E foi assim que o 29º título Carioca do Flamengo foi pra mim. Até hoje o pôster do título é o papel de parede do meu computador. Uma lembrança do jogo que não assisti e do qual sempre me lembrarei.

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