Friday, July 11, 2008

Eyes wide shut

Finalmente abri os olhos. Acordei, pra usar a expressão mais apropriada. Consegui enxergar além do véu negro que me cobria as ações e percebi a conspiração suja e silenciosa em que estou envolvido. Em que todos estamos. Vai saber há quanto tempo. Dias, meses... anos, meu Deus.

Eles te pegam muito cedo. Você está lá na sua, deitado, dormindo, e de repente acontece. Você é trazido para um mundo em que não desejou estar, num momento em que não queria nem se mexer. Tudo é muito rápido e confuso. A vista dói, é difícil raciocinar, você não tem forças pra ficar de pé. Mas tem que se levantar. Está na hora de tomar café. Precisa ir pra escola. E quando você olha pro relógio, não são nem 7 horas. Às vezes, nem dia ainda é.

Esses malditos madrugadores. Tomaram o mundo pra si sem perguntar o que o resto de nós achava disso. Agiram enquanto dormíamos. E agora não podemos mais dormir. Não o suficiente. Agora nosso sono é errado. É sinônimo de vadiagem, de anotações na agenda, de descontos no salário. Fizeram do nosso sono a morte. Agora, quem dorme não vive. E meio dormindo, meio acordados, de fato, zumbiamos por aí, no melhor estilo morto-vivo.

E, claro, levantamos de mau-humor. Porque a cada dia que nasce, nascemos de novo também. Passamos por mais um parto, somos novamente arrancados do ventre acolhedor do sono, ainda encharcados em nossos sonhos e jogados num novo dia. Sem conseguir falar ou abrir os olhos. Tente você sair por aí sorrindo e saltitando depois disso.

Mas esses dias estão chegando ao fim. Assim como eu, outros já acordaram. E também estão indignados. A Resistência é pequena, mas extremamente motivada. E cada um faz sua parte. Eu vou agindo por dentro. Acordo cedo todas as manhãs como se precisasse disso pra viver. Até sorrio às vezes. Mas por dentro vou contando os momentos que faltam pra tomar o poder. Marcar reuniões pra depois da novela. Depois do jogo. Encontros à meia-noite. Happy hour no nascer do sol. Café-da-manhã na hora do almoço. Almoço na hora do jantar. Dormir até o outro dia.

Às vezes temo pelo minha integridade. A teia dos madrugadores é espessa e muito bem montada, difícil de se soltar. Sábado passado, por exemplo. Acordei às 7h sem despertador. E sem sono. Se tivesse levantado, não dormiria mais. Quase entrei em pânico. Foram quase 10 minutos pra voltar a dormir. Já foram 5. Um dia vão ser 15. A esperança vai resistir enquanto eu conseguir pegar no sono, não importa quanto tempo leve.

Você. Você também é parte da guerra. Dê-se 5 minutos de presente. Permita-se atrasar 10 minutos todas as manhãs. E, quando o fizer, lembre que é por um bem maior. Rebele-se. Acorde. E volte a dormir.

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