Thursday, April 24, 2008

Cariocão 2007

Depois que comecei a escrever sobre o Flamengo em 2007 (tijolo que me deu dor de cabeça e me obrigou a parar na metade), lembrei que ainda não tinha falado sobre o título no Carioca do ano passado. Já faz quase um ano e não tem mais toda aquela empolgação, mas mesmo assim resolvi contar a história.

Era 2007 (bons tempos) e naquele ano minha Tchuca foi fazer um curso em Porto Alegre. Todo mês ela tinha que viajar pra lá e me convidou pra ir junto algumas vezes, porque eu ainda não conhecia a capital gaúcha e sou ótima companhia. E porque ela odiava ficar lá sozinha o fim de semana inteiro, na parte feia da cidade (onde gordas te atacam na rua). Eu aceitei, porque adoro viajar e andar de ônibus, e prometi ir na próxima vez. E só fui descobrir que a próxima vez caía bem no dia do jogo do Flamengo quando já estava de passagem comprada e palavra dada.

A maior parte do meu tempo em Porto Alegre foi ocupada com esforços para achar um bar que passasse a final do Carioca (o resto se dividiu em Sgt. Peppers Bar, a leitura de "Belas Maldições" e fugir de gordas que te atacam na rua). Mas como todo mundo sabe – e eu também sabia – futebol fora do Rio Grande pra gaúcho é como o resto do mundo pros Estados Unidos: não existe. Como não ia rolar de ver o jogo por lá, aproveitamos para voltar mais cedo pra Blumenau, às 13h30 (chegando às 23h), e fui obrigado a viajar com frio na barriga. E com um velho gremista que ouvia a final do Gaúcho num radinho e gritava “Iuuuuu-hul” a cada gol do Grêmio contra o Juventude (foram quatro na viagem toda) e com o vocalista dos Acústicos&Valvulados.

Quando o ônibus fez a primeira parada, pude ver na televisão que o jogo do Mengo estava 0x0 e no intervalo. Menos mal. O Botafogo era um time melhor e um empate no primeiro tempo não era de todo ruim. O jogo reiniciou, mas não deu pra assistir nem um minutinho porque já era quase hora de ir embora. Quando eu estava no caixa pagando meu lanche, vi o Juan partindo pro ataque, escapando do marcador e cruzando pro Souza. Gol! Quase explodi de felicidade, mas comemorei com moderação e gritei bem baixo, afinal estava num lugar público cheio de gente. Mesmo assim minha Tchuca falou que ficou com vergonha do escândalo que eu fiz. 
Vai entender...  E ainda brigou comigo porque larguei dinheiro e mercadoria no caixa, sem supervisão, pra correr pra frente da tevê.

Eu nem liguei, afinal era só alegria. O Flamengo ia ganhando do Botafogo, o temido Carrossel, o supra-sumo do futebol, do poderoso alvinegro que parecia olhar com desdém para todos os outros times, em cima de um pedestal com seus jogadores de nomes compostos e apelidos de duas sílabas.

Aí, o balde de água fria.

Eu tinha incumbido o Peru de me atualizar via SMS do andamento do jogo. Até então ele vinha fazendo um péssimo trabalho e só havia me mandado duas mensagens: 0x0 e 1x0. De repente, chegou mais uma. Pensei na hipótese de outro gol nosso. Improvável. Era o Flamengo de Ney Franco. Tinha tudo pra ser gol do Botafogo. Enquanto ia tirando o celular do bolso, até me conformei com a possibilidade. Seria apenas normal, até esperado. Inesperado mesmo foi ver que a mensagem não era do Peru, e sim do Homer, e dizia exatamente o seguinte:

hahahaha Fla 1x2 Bota c fudeu !!

Era inacreditável. Inacreditável, imensurável, inconcebível! Não sabia o que pensar na hora. Fiquei totalmente desnorteado. Como, meu Deus, como passamos um tempo inteiro sem tomar gols e apenas poucos minutos depois de abrirmos o placar levamos a virada? Assim, direto, sem ao menos empatar? Porra, virou jogo de basquete? O frio na barriga, que tinha aliviado, virou uma borboleta. E eu comecei a ficar com raiva do velho gremista, que já estava mais ou menos no terceiro “Iuuuuu-hul”.

Foi quando aconteceu. A magia aconteceu.

Do nada, comecei a me sentir bem. Passou borboleta, passou tudo. Comecei a me sentir confiante, a acreditar na vitória do Flamengo. Foi bem estranho. Era como se eu tivesse a certeza de que tudo ia dar certo no final. Um sentimento súbito e altamente questionável para alguém que torce pra uma zaga formada por Moisés e Irineu. Segui confiante, dizendo pra mim mesmo que seríamos campeões. De repente, o telefone toca. Era meu pai, avisando que o Flamengo tinha empatado. Golaço do “Ronaldo” Augusto.

Depois disso foi difícil segurar a empolgação. Aquela confiança repentina se transformou em certeza absoluta - ou quase. Afinal não é simplesmente "tenho certeza que vamos ganhar, que bom" virar a cabeça e dormir. Eu tinha que saber como ia acabar o jogo. Mas como o Peru mui gentilmente não cumpria a parte dele do acordo, fui obrigado a telefonar pedindo uma transmissão ao vivo das cobranças de pênalti. E nas defesas do Bruno, eu vi (ouvi) minha certeza se confirmar definitivamente e finalmente pude devolver os “Iuuuuu-hul” pro velho gremista. Flamengo campeão!! Mais uma vez!! Choooooooora Bostafogo!!

E foi assim que o 29º título Carioca do Flamengo foi pra mim. Até hoje o pôster do título é o papel de parede do meu computador. Uma lembrança do jogo que não assisti e do qual sempre me lembrarei.

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