Thursday, April 24, 2008

Aleluia! #2

Outro dia desperdicei uma chance de ouro na rodoviária. Tinha ido levar minha Tchuca pra pegar um ônibus e, enquanto a gente esperava, um sujeito veio meio sorrateiro do meu lado, com aquele tipo de atitude “aí tem”. Mas não era assalto não, nem venda de loteria. Era só um homem muito crente que gostava de pregar a palavra de Deus com analogias “super” “criativas”, felizmente (?).

Eu ouvi com atenção o que o cara dizia, porque acho um barato esse tipo de situação. O que leva um cara a abordar um completo estranho numa rodoviária e começar a pregar? Será que ele realmente achou que estava fazendo uma boa ação? Que era a obrigação dele? Será que eu fui escolhido aleatoriamente? Ou ele viu uma chama de perdição no meu olhar? Acho isso realmente intrigante.

Ele foi falando até o ônibus e a gente ter que sair e foi aí que eu percebi como teria sido legal travar uma discussão como sujeito, ver o quanto ele ia agüentar discutindo algo bem idiota. Tipo na hora em que ele falou dos 10 mandamentos, interromper bem calmo, com toda a segurança do mundo, corrigindo:

- Quinze. São quinze mandamentos.

O papo do cara era muito involuntário. As pessoas eram os doentes, o céu era o hospital e Jesus, obviamente, era o médico. Ele não falou, mas acho que nesse cenário os apóstolos eram os enfermeiros – até Judas, um profissional pouco dedicado, porém – Maria Madalena a recepcionista (daquelas bem irritantes que dão vontade de apedrejar!) e Deus o pai que obrigou Jesus a estudar medicina, porque publicidade não dava dinheiro e era coisa de filisteu.

Antes de ir embora, ainda pude conferir uns lampejos do cara catequizando outros coitados, que sem contar com o mesmo interesse que eu, não se se dignificavam nem a olhar na cara dele. Isso aparentemente soava como um desafio pro sujeito, que se mostrava cada vez mais engajado. E ele também não dava sinais de cansaço: ia atravessando a
rodoviária toda, fazendo escala em cada um dos "ouvintes".

Essa é a verdadeira doença, o “religionismo”. Uma pena o Dr. Jesus não ser psiquiatra.

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