Thursday, May 15, 2008

Parágrafo perdido #1

Aí eu acordei. Mas era quase como se não tivesse acordado. Abri os olhos e continuou tudo escuro. Mesmo assim eu sabia que estava apertado como uma sardinha. Eu podia sentir minha respiração bater e voltar pra mim. O teto estava próximo, quase encostava no meu nariz. Tentei abrir os braços, mas não tinha espaço. Mal e mal eles podiam sair do lugar. Dobrando um pouco meus pés pra baixo, logo toquei o chão. Eu estava na porra de um caixão. As paredes eram muito duras, pareciam ser feitas de mármore. E eram recobertas por um carpete fino, bem fino que logo começou a me cutucar como se fosse feito de espinhos. Comecei a senti-los também no meu nariz. Eu só imaginava o quanto de ácaros e pó não devia estar preso ali dentro junto comigo, talvez alguns insetos também, e logo comecei a suar e meu corpo todo a coçar. Era muito difícil não entrar em desespero, então tentei ocupar minha mente imaginando como fui parar ali. Curiosamente, era difícil de pensar. Nem tanto pela atmosfera, fazia um silêncio como eu nunca tinha visto antes. Ou melhor, ouvido. Silêncio que eu tinha ouvido... ? O que importa é que chegava a apitar de tão quieto e eu simplesmente não conseguia me concentrar. Porque eu estava na porra de um caixão! Alguém tinha cometido um engano terrível! Ou pior ainda, um acerto. Eu sempre tive curiosidade em saber o que eu faria pra escapar de um caixão se tivesse sido enterrado vivo. Finalmente, ia ter a oportunidade de descobrir. Infelizmente.

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