Friday, February 17, 2006

Como escolher entre a morte e a glória?

Esse foi o segundo texto que saiu na minha coluna no BritFórum. Vou postar aqui pra encher lingüiça, já que são 17h55 e em cinco minutos não vou conseguir fazer meu especial "Barrados no Baile".

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Pete Doherty é o cara. Sei que muita gente torce o nariz pra ele e em especial pras suas atitudes, mas é inegável que, nos dias de hoje, ele é O cara. Expulso da banda que ajudou a fundar, pulando de Centro de Reabilitação em Centro de Reabilitação, estragando os próprios shows e os alheios, viciado em drogas, namorando a modelo tao ou mais junkie que ele próprio...só num mundo maluco mesmo ele se encaixaria. Seria sua própria representação. No mundo maluco do Rock And Roll.

Amando ou odiando o líder do Babyshambles, é inegável que hoje ele representa, solitário, o espírito festeiro do rock. Talvez ele não tenha lá o talento de um Ozzy Osbourne ou de um Keith Richards - nos bons tempos - pra segurar a onda e a imagem por tantos anos, mas a boa da verdade é que o estilo musical favorito das massas há muito tempo precisa de um representante digno.

A imagem mais emblemática que me vem a cabeça quando falamos de rockstar remonta os idos anos 80. Naquela época estava na moda o Pretty Rock, com bandas que se preocupavam mais com a maquiagem do que com a musica. Apesar do gênero ser pai de um sem-número de bandas farofa, é fato que a quantidade de laquê usado era a mesma de baderna que os integrantes dos grupos aprontavam. Milhões de discos vendidos, bebida, drogas e sexo sem moderação.

No Brasil, a situação é ainda pior e talvez essa seja a causa de tanta gente buscar seus ídolos no exterior. Nossos roqueiros sao todos velhos e se não estão casados, estão noivos há anos. Pra piorar, programas como "Família MTV" quebram todo o mito por trás da alegria de ser roqueiro, passando uma imagem de "tiozão pai de família que tem banda" que chega a beirar o deprimente. Não bastasse tudo isso, a brodagem impera no Brasil e ninguem critica ninguem. Rola uma briguinha ou outra, uma rixazinha, mas dar a cara a bater ninguém dá. Que falta faz um par de Gallaghers por aqui.

Quero deixar bem claro, no entanto, que não faço aqui apologia a qualquer tipo de droga ou a um estilo hedonista de vida. De jeito nenhum. Mas os rockstars deveriam viver à tangente da vida normal da sociedade, regados de excessos, sempre no extremo. Deveriam ser nosso modelo de transgressao, do rompimento de amarras com o sistema - "the man" - mostrando que é possível vencer na vida apenas querendo se divertir. Nossos exemplos dessa fantasia hoje estao velhos e a primeira coisa de que me lembro ao vê-los em ação é do meu avô, sentado em sua poltrona, vendo Sessão da Tarde. Que é exatamente onde eles deveriam estar.

Em terra de Bonos, Pete Doherty é rei. Enquanto o marasmo continuar no cenário musical, vamos ter que confiar na sua figura decadente - porém, altamente roqueira - para refletir a imagem baderneira do rock and roll. Para quem acha que isso não é uma grande coisa, Pete dá a dica no futuro hit do Babyshambles que tem tudo pra virar um hino do seu reinado: "fuck forever, if you don't mind".

Ele é o cara.

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